Presença Calvariana no vazio da Cidade de Belém do Piauí

“Quando acontece um desastre, uma catástrofe, antes mesmo de os bombeiros
chegarem, a irmã Calvariana já devia estar lá”. (Padre Jean Sinsin)

A sete anos atrás, nós Irmãs Calvarianas, optamos por viver com o povo aqui no Belém do Piauí, nessa pequena e calorosa cidade, de gente simples, acolhedora, sedenta de vida e da Palavra de Deus. Nossa chegada foi marcada pela alegria e o acolhimento das pessoas que nos receberam não só na cidade, mas em seus lares. Aqui nos tornamos uma com o povo. Nesses sete anos, ricas e inúmeras foram as experiências que fizemos juntos, por meio de: visitas, partilha da Palavra de Deus e da vida, velórios, terços, celebrações, festejos, caminhadas, formações, encontros e etc.

Neste ano, ao voltarmos de nossas viagens, trouxemos todas as expectativas para uma nova e longa experiência, porém nunca imaginada da forma que está sendo. Assim como nos anos anteriores, iniciamos com o mesmo vigor e animação, pois estávamos em plena preparação para os festejos de São José, uma tradição na cidade de Belém, que mobiliza centenas e centenas de pessoas, advindas do interior e de cidades vizinhas, que vem para celebrar a fé e confraternizar entre amigos.

Nesse clima iniciou-se os festejos onde as noites eram uma mais animada e alegre que a outra, até que no penúltimo dia da novena de São José, todos fomos surpreendidos com a triste notícia do fim do festejo por conta da pandemia da COVID-19, e que na missa não poderia haver mais que dez pessoas. Nunca participamos de uma missa onde o sacrifício do Cristo fosse tão escancarado, e como foi difícil perceber a força da ressurreição. Olhar para a Igreja que na noite anterior estava repleta de gente, agora só tinha banco vazio, foi de uma tristeza imensa. Nessa hora foi muito importante a presença de Dom Plínio, que como pastor e “pai” cuidadoso, veio até suas ovelhas para lhes dar essa triste notícia, mas sobretudo para animá-las na fé e na esperança de que Deus nunca as abandona.

Essa realidade foi uma experiência de calvário que gerou sentimentos de: luto, revolta, tristeza, medo, negação e etc. Muitas também foram as perguntas em torno do “não pode”, de repente: não podia sair de casa; não podia se aproximar das pessoas; não podia visitar; não podia convidar ninguém para vir em sua casa, não podia frequentar a praça, não podia….

Frente a tudo isso, nós irmãs, também sentimos tamanha dor e confusão. Foi difícil encarar as quintas feiras sem estar com a comunidade na adoração ao Santíssimo e no terço; os sábados à noite sem a missa; o vazio de uma cidade pequena onde todos se conhecem e se cumprimentam. Vivemos o drama entre a missão da Calvariana de ser presença materna, de pé junto ao Calvário da humanidade e o impedimento de estar fisicamente com as pessoas em situações limites. Quanta dor ao receber cada telefonema ou mensagem pedindo nossa presença, uma palavra de esperança, uma ajuda para vencer a crise, repostas para tantas perguntas, ou mesmo, fazer uma oração. Nós ficávamos entre o “não pode” e urgência carismática que nos impulsionava a estar lá. Em muitos momentos, arriscamos ir a quem precisava, em outros, fizemos chegar nossa presença por meio de orientações, alimentos, chás ou remédios caseiros que ajudavam a manter a imunidade elevada como forma de atravessar este tempo com qualidade de vida.

Fomos desafiadas a compreender esse momento na fé, a aceitar na esperança e a rezar tudo isso, confiando que “o Senhor vai acendendo luzes quando vamos precisando delas”. O tempo foi passando e aos poucos fomos encontrando no Espirito, novas luzes, novas formas de ficarmos junto com nosso povo e construir a cada dia o que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023, encoraja-nos fazer: “ser Igreja nas casas” (3º cap.).

As redes sociais tem sido instrumento que facilita nossa presença nas famílias e permiti que elas sejam presença para nós. Desse modo foi possível: partilhar e refletir acerca da vida entrelaçada com Palavra de Deus; rezar a Campanha da Fraternidade, celebrar e vivenciar o Tempo Pascal, e neste mês, em especial, cada lar vai se tornando uma “Igreja Mariana”, que medita a vida de Maria por meio do Evangelho e do terço.

O mês Mariano está culminando com a Novena de Pentecostes feitas diariamente com o povo, e tem possibilitado que as famílias possam fazer a experiência de reconhecer suas casas não só como Igreja, senão como um cenáculo do Espirito Santo. As redes sociais também agregaram pessoas de outros estados e até de fora do país para fazer essa experiência conosco.

Nosso coração anseia pelo fim dessa Pandemia, mas também temos crescido muito com toda essa realidade. As ruas vazias de pessoas em Belém tem se tornado para nós um espaço de aprendizado, de reflexão, de valorização das pessoas e dos momentos simples da vida, sobretudo para colocar nossa pequenez diante da grandeza do amor de Deus; nossa pequena chama de esperança no farol da certeza vitoriosa do Ressuscitado e nossos passos vacilantes na ousadia do Espirito.

Como Mulheres Calvarianas seguimos suplicando ao senhor a força motora que habitou Maria e a manteve de pé frente ao Calvário do Filho, para que nós também possamos continuar de pé junto ao Calvário do nosso povo sendo sinais de vida e esperança.

Com afeto,
Irmãs de Nossa Senhora do Calvário.

COMPARTILHE:

Compartilhar no facebook
Compartilhar no google
Compartilhar no twitter
Compartilhar no whatsapp
Compartilhar no email