O Ministério Público Estadual realizou na segunda-feira, 14 de abril de 2014, Audiência Pública às 09h, na Igreja São Francisco de Assis, em Curral Novo Piauí.
Na Audiência foram debatidos temas de grande relevância a população da zona do minério de Ferro, como, negociações de terras, venda ou arrendamento, exploração, permanência e retirada de famílias dentre outros.
A região de Curral Novo detém uma das maiores reservas de minério de ferro do nordeste. Por causa dessa imensa riqueza existente no subsolo, está sendo construído na região um ramal da Ferrovia Transnordestina e as companhias mineradoras já realizaram o trabalho de identificação (sondagem) das jazidas de minério de ferro, para a extração.
São essas companhias mineradoras que vão retirar e exportar os milhões e milhões de toneladas do minério de ferro, existentes na região. Centenas dessas jazidas já estão devidamente localizadas, identificadas e catalogadas para que o material seja extraído.
Mas, os moradores da região e proprietários das terras, de onde o minério de ferro será retirado, revelam preocupação pela forma com a qual estão sendo abordados por pessoas que se apresentam como representantes das companhias mineradoras.
Sei que com a extração do minério pode gerar muitos empregos, mas nossas comunidades não estão preparadas. Por outro lado os proprietários de terras não estão sendo valorizados, porque o valor que eles querem comprar é muito baixo. 1.500 R$, o hectare, já incluído tudo o que tiver de construído (casa, cisterna, açudes, cerca e etc…). Nós vivemos da agricultura e da pecuária aí se vendermos nossas terras e nossos animais por uma mincharia (pequeno valor) nós vamos viver de quê? Pontua a moradora da comunidade Lagoa do Ovo, Arlete Modesto Macedo Fenardes.
São em média oito comunidades do município de Curral Novo onde haverá a exploração do minério. Para a moradora Fabiana Araújo Nunes perder o que levou anos para ser construído é o seu maior medo. “meu medo é perder tudo, nossa terra, nossa casa tudo que construímos com tanto suor e de repente tudo se desmoronar. Para eles a casa da gente não tem nenhum valor, mas por mais humilde que seja sabemos que ela é o nosso lugar de abrigo. Ali não se trata apenas de um pedaço de terra se trata de histórias de vida, de pessoas simples, humildes, mas que têm sentimentos. A minha mãe tem quase 60 anos e ela nasceu, cresceu e construiu nossa família ali e hoje vivemos com medo de ficarmos sem nossa terra e termos que recomeçarmos tudo de novo. Se vai ser bom para o estado, para nossa cidade como eles dizem, por que só os pobres serão prejudicados?”, conclui.
A audiência contou com a presença de representantes de vários seguimentos da sociedade, como o Ministério Público Estadual e Federal, Empresa Mineradora BEMISA, Poder Legislativo Municipal de Curral Novo, Igreja Católica, CPT dentre outros. Segundo o Pároco da Paróquia São Simão, Pe. Miguel Feitos, à realização da audiência pública já é um avanço para a comunidade, apesar de ainda ter ficado muitas dúvidas nas pessoas. Mas a Igreja está do lado do povo ajudando e apoiando. “Não somos contra a nação, mas também não queremos ser perdedores daquilo que a gente conquistou”, disse o pároco.
O Bispo Diocesano, Dom Plínio José Luz da Silva, também esteve presente na audiência. No final, Dom Plínio José manifestou o seu contentamento em participar daquele momento. “Estar nesta audiência pública para mim é um grande contentamento, estou aqui porque a nossa igreja está acompanhando o nosso povo, inclusive já estivemos lá no local de exploração do minério e já publicamos o pensamento da Igreja a respeito da sua extração. Agradeço a oportunidade de estar aqui ouvindo, de poder ver os envolvidos da situação aqui neste momento, unidos buscando a mesma resposta. Sabemos que as coisas não se resolvem de uma hora para a outra, mas a realização desta audiência já foi um passo. Quando as pessoas fizeram algumas perguntas me deixou contente, pois é sinal que elas estão avançando na busca pelos seus direitos. Sabemos que não dar para parar por aqui, mas pelo menos já demos o primeiro passo”, disse.
A audiência foi transmitida ao vivo pela Rádio Educativa de Picos Cultura FM. Mas informações sobre as ações da mineradora e a preocupação dos moradores e da Igreja no processo, acesse o link.