“ESPERANÇAR A CATEQUESE DIOCESANA” – artigo de Pe. Flávio Santiago

A Diocese de Picos assumiu na última Assembleia Diocesana (Nov. 2015) como prioridade de sua ação pastoral o incremento da catequese nos seus vários níveis – iniciação, perseverança, adulto, sacramentos, etc. Nesta decisão encontramos um desdobramento da reflexão e dos esforços de evangelização promovidos em toda a Igreja Diocesana sob a  inspiração das “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011/15”, particularmente da perspectiva de ação denominada “Igreja: casa da iniciação à vida cristã”.

As iniciativas para dinamizar a ação catequética demandam não apenas recursos materiais e humanos mais também “conhecer a realidade, atentos aos sinais dos tempos e, em atitude de discernimento, nela mergulhar iluminados pela fé.(DGAE 20015/2019, 16). Faz-se oportuno acessar os dados coligidos pelos Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas –IBGE – sobre o Nordeste do Brasil e considerá-los no planejamento das ações concernentes a formação das gerações atual e futura dos católicos do território da Diocese de Picos.

Recentemente o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) publicou no portal do ministério dados reunidos na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD, que revelam que as famílias beneficiadas pelo Bolsa Família apresentaram uma queda na taxa de natalidade nos últimos dez anos. Segundo levantamento do IBGE, as famílias 20% mais pobres do país – faixa que corresponde ao público do programa – com filhos até 14 anos tiveram uma queda de 15,7% entre 2003 e 2013.

Esse número fica ainda maior no Nordeste, onde o decréscimo foi de 26,4%. A média geral do Brasil é de 10,7%. Segundo os técnicos do MDS a redução da natalidade está relacionada a aspectos como o aumento da escolaridade da mulher jovem, a ampliação do acesso aos serviços médicos e também ao maior conhecimento do público feminino sobre sexualidade e métodos contraceptivos. (cf. www.noticias.uol.com.br)

Para o MDS os números põem fim ao argumento de que as pessoas mais pobres engravidam para receber valores maiores do Bolsa Família. (cf. www.brasil.gov.br). Entretanto, para aqueles que são chamados a pensar, planejar e efetivar a ação pastoral da Igreja Particular de Picos tais índices não podem passar despercebidos, já que produzam novas questões, pois a queda da taxa de natalidade repercute diretamente na ação pastoral. Destacamos algumas:

Em que faixa etária devemos concentrar recursos matérias e humanos na transmissão dos conteúdos da fé? Não esquecer que o número de crianças decresce, o de jovens permanece estável até 2030 e se amplia, gradualmente, o de idosos. Quanto aos jovens vale recordar que estes podem ser subdivididos em três categorias: jovem-adolescente, com idade entre 15 e 17 anos; jovem-jovem, entre 18 e 24 anos e jovem-adulto, entre 25 e 29 anos. Dados  demográficos apontam que iniciaremos um processo de declínio populacional antes de alcançar a metade deste século. (cf. Juventude levada em conta, in: www.biblioteca.presidencia.gov.br).

Quais métodos utilizar e como incorporar as novas tecnologias de comunicação na formação de crianças, adolescentes e jovens? A pesquisa investigou o uso de celular e descobriu que o contingente de pessoas de 10 anos ou mais de idade que tinham o aparelho para uso pessoal, em 2011, foi estimado em 115,4 milhões, o que correspondia a 69,1% da população dentro dessa faixa etária. Em 2005, eram apenas 55,7 milhões de pessoas (cf. teen.ibge.gov.br)

Impõem-se a necessidade de apresentar com vigor o ensinamento oficial da Igreja sobre o matrimônio e a sexualidade, especialmente aos jovens e no diálogo com os novos casais, sejam aqueles unidos ou não pela legislação civil ou pelo rito católico, recordar a indeclinável responsabilidade de viverem a paternidade/maternidade responsável, pois os filhos constituem o dom mais excelente do matrimônio.  (Gaudium et Spes, 50; Humanae Vitae, 9). Neste tópico é doloroso admitir que existem porções da circunscrição diocesana onde a percepção do matrimônio cristão católico está fortemente eclipsada. No labor catequético o matrimônio é uma questão a ser abordada em chave transversal. Isto faz dele presença obrigatória  em todas as reflexões e decisões e a sua ausência, em consequência, pode comprometer  a incidência dos nossos esforços no tecido eclesial.

Infelizmente o atual momento histórico com suas várias crises  – política, ética,  econômica…. –  produziu o adormecimento da esperança. Não podemos deixar que este estado de ânimo se instale em nosso espírito e nem tão pouco nos abater pela enormidade dos desafios pastorais pois, como discípulos missionários, não confundimos a esperança do verbo esperançar com a esperança do verbo esperar. Esperar é atitude passiva diante dos dilemas presentes: eu espero que mude. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. (cf. Paulo Freire, Pedagogia da Esperança, um encontro…Paz e Terra)

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